SegredosDoVinho

Classificação dos Vinhos

Bem, caro leitor… agora entramos em um tema abrangente por vezes um pouco confuso. Os vinhos possuem muitas características e classificações que variam de acordo com as legislações de cada país (e pela ausência de leis de certos países). Mas vamos por partes e iniciemos com alguns conceitos e características básicas:

Estilo e País de Origem: o Velho e Novo Mundo

“Velho Mundo” – são chamados os vinhos produzidos em países que já possuem grande história e tradição no plantio de Uvas e fabricação de Vinhos. São considerados o berço da Viti-Vinicultura e basta olharmos para a idade de cada país para conseguirmos diferenciar. São do “Velho Mundo”, França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Grécia, Croácia, Eslovênia, Romênia, Suíça, Israel, Macedônia, Inglaterra, Egito, Sérvia, Eslováquia, Bélgica, Reino Unido, entre outros.

Sabe o que os vinhos do Velho Mundo têm em comum? São vinícolas épicas, com centenas de anos e que passam, de geração para geração, para sucessores das famílias à frente da produção. São vinhos também regidos por leis específicas e mais rígidas definidas por cada país, que protegem o nome do vinho, a região, suas origens e seus métodos de produção, além das variedades de uvas. Em suma, é comum encontrar vinhos dessas regiões, que mantém os mesmos processos de fabricação e os mesmos tipos de uvas já utilizados há séculos.

A vantagem é a tradição e o estilo bem definido a ser esperado dos vinhos do Velho Mundo.

A desvantagem é que os produtores por vezes ficam limitados a inovação tecnológica ou de uso de novas cepas (variedades de uvas), perdendo vantagem competitiva em relação aos vinhos do “Novo Mundo”, onde se empregam cada vez mais as novas tecnologias de colheita, fermentação, e plantio de varietais que melhor se adaptam ao clima, resultando em vinhos de alta qualidade.

Em suma, o que faz do Velho Mundo ainda um diferencial, é que seus vinhos possuem características intrínsecas do terroir, do cuidado que as famílias cuidam das vinhas, da qualidade das uvas, da tradição, além de por muitas vezes estarem sujeitos a leis locais que garantem sua qualidade. São vinhos bons por linhagem… Sempre foram… há décadas, há séculos… e continuam sendo… bons.

“Novo Mundo” – são chamados os vinhos produzidos em países que não possuíam tradição em produzir vinhos (ao menos de qualidade aceitável) até o século retrasado. São países que despontaram como grandes promessas na Viti-Vinicultura nas últimas 4 décadas, trazendo inovações tecnológicas para gerar vinhos de alta qualidade, já que não estão sujeitos às limitações legislativas impostas pelos governos dos países do Velho Mundo.

São considerados Novo Mundo países como Chile, Argentina, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, México, Brasil, Canadá, entre outros.


Região/Província de Origem x Qualidade, normas, processos e controle

Por tradição, os vinhos normalmente trazem em seus rótulos, indicações que caracterizam suas origens geográficas e que muitas vezes essa origem define o estilo ou o que esperar de um vinho. Com o tempo e a prática, você saberá identificá-las…

Já ouviu falar de Valpolicella, Rioja, vinho do Porto, vinho Madeira, Lambrusco, Champagne, Tokaji, Montepulciano D’Abbruzzo, MArsala, Sauternes, Passito di Pantelleria, Monbazillac, Bordeaux, Bourgogne, Beaujolais, Toscana, Alsace, Rioja, Côtes-du-Rhône, Châteauneuf-du-Pape, Chablis, Loire, Valdepeñas?

Se ainda não, talvez já tenha ouvido falar em Vale do Vinhedos, Vale do São Francisco. Estes últimos se referem a denominações de origem (D.O) do Brasil. Compreende um conjunto de cidades ou províncias que possuem uma característica geográfica/climática própria, definindo um conjunto de fatores que influenciarão nas características dos vinhos. Só os vinhos produzidos na região demarcada podem transpor ao rótulo essa indicação.

No Chile por exemplo, podemos citar as D.O (Denominação de Origem): Vale Central, Vale Colchagua, Vale do Maule, Litueche, Limarí.

No Velho Mundo, essas indicações de demarcações de regiões, são definidas por órgãos reguladores e por isso dá até para arriscar em classificar as denominações de origem por qualidade (não é regra, mas podemos usar como um parâmetro):

  • Vinho de Mesa – Há vinhos levam essa indicação mesmo pertencendo a uma região de origem demarcada, por não atenderem critérios de qualidade, mas podem ser também por não seguirem as normas regulatórias de produção definidas para a região. Exemplo de excepcionais vinhos da região da Toscana-Itália que não utilizam as variedades de uvas “Sangiovese”, não podem utilizar a indicação geográfica “Toscana IGT”, ou apenas “Toscana” em seus rótulos. Muitas vezes o produtor opta por não seguir as leis para obter vinhos diferentes ou inclusive para conseguir maior qualidade.

IGT – Indicação Geográfica Típica – São vinhos que teve suas uvas e fabricação realizadas dentro de uma região geográfica de um país com demarcação feita por órgãos reguladores e que confere ao produtor, o direito de utilizar em seus rótulos. Todavia, já existem alguns controles e fiscalizações que os órgãos fazem para conceder o direito de uso desta indicação nos rótulos. Ex: Sicilia, Corbières, Toscana, Puglia, Lambrusco…

D.O – Denominação de Origem – São vinhos que possuem utilizam um nome que demarcam um conjunto de províncias ou cidades, que compões uma região. Não indicam explicitamente a região geográfica mas por esta denominação é possível saber a região que o vinho provém.

D.O.C – Denominação de Origem Controlada – São vinhos que levam um nome que demarca várias províncias ou cidades de uma região, mas que ainda recebem uma fiscalização e controle mais rígidos dos órgãos reguladores ou governamentais, tendendo a ser estes, vinhos de qualidade superior aos vinhos D.O.

D.O.C.G – Denominação de Origem Controlada e Garantida – São vinhos que levam um nome que demarca várias províncias ou cidades de uma região, mas que ainda recebem uma fiscalização e controle mais rígidos dos órgãos reguladores ou governamentais e sobretudo têm a qualidade garantida por estes órgãos certificadores, tendendo a ser estes, vinhos de qualidade superior aos vinhos D.O.C.

No rótulo a indicação e nomenclatura das denominações de vinhos acima descritos, podem ser apresentadas com pequenas variações, de acordo com o idioma e regulamentações de cada país. Vamos a alguns exemplos:

França

  • Vin de Table (vinho de mesa)
  • Vin de Pays (vinho regional, ou vinho do país em tradução literal, equivale aos IGT ou IGP de outros países)
  • VDQS – Vin délimité de Qualité Supérieure
  • AOC ou AOP – Appellation d’Origine Controlée (equivale ao DOC de outros países). AOP – Appellation d’Origine Protegée tem o mesmo significado que AOC. Em 2009 o INAO (Institut National des Appellations d’Origine) alterou a sigla AOC para AOP para adequação às normas internacionais do OMC (Organização mundial do comércio)

Alemanha

  • Deutscher Wein ou Deutscher TafelWein (vinho de mesa)
  • Landwein
  • Qualitätswein (QbA)
  • Qualitätswein mit Prädikat (Qmp)
    • Kabinett (uvas menos maduras) – fine, light wines from ripe grapes with low alcohol content
    • Spätlese – ripe, elegant wines with fine fruit, which are harvested a little later. These wines are more intense in flavor and concentration, but not necessarily sweet.
    • Auslese – fine noble wines from fully ripe grapes, unripe berries are separated out. Often intense in aromas and taste but not always sweet.
    • Beerenauslese (BA) – full, fruity wines made from individually-selected, overripe berries that are usually infected by Botrytis cinerea (noble rot). These are rarities, harvested only when exceptional weather conditions enable the grapes to ripen to this extent. They are notable for their longevity (can be stored for decades). Remarkably rich, sweet dessert wines, or to be enjoyed by themselves.
    • Eiswein (Icewine) – made from grapes as ripe as BA, but harvested when it is at least minus 7 degrees celsius and pressed while frozen so that only the fruit concentrate is squeezed out. Truly unique wines with a remarkable concentration of fruity acidity and sweetness. They are becoming more of a rarity as Germany experiences warmer winters and the minimum temperature needed for harvesting is occurring less often.
      Trockenbeerenauslese (TBA). (uvas mais maduras) – This is the top of the quality pyramid, rare wines from shrunken, shriveled, noble rot berries, that cannot be harvested every vintage. These rich, sweet, luscious, honey-like wines can age for decades.

Espanha

  • IG – Vino sin Indicación Geográfica
  • VDM – Vino de Mesa
  • IGP – Indicación de Origen Protegida
  • VdT – Vino de la Tierra
  • DOP – Denominación de Origen Protegida
  • DO – Denominación de Origen
  • DOCa – Denominación de Origen Calificada
  • VC – Vino de Calidad con Indicación Geográfica
  • VP – Vino de Pago
  • Vino de Pago Calificado

Itália

  • Vino da tavola (vinho de mesa)
  • IGT – Indicazione Geografica Típica
  • DOC – Denominazione di Origine Controllata
  • DOCG – Denominazione di Origine Controllata i Garantita

Portugal

  • Vinhos de mesa
  • VR ou IG ou IGP – Vinho Regional ou Indicação Geográfica ou Indicação Geográfica Protegida
  • DOC ou DOP – Denominação de Origem Controlada ou Denominação de Origem Protegida
  • VLQPRD – Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada

Coloração predominante dos Vinhos

Os vinhos podem ser classificados quanto a cor: Tinto, Branco, Rosado (Rosé). Existem ainda pequenas e sutis variações como o vinho do Porto, onde os tintos são chamados de Ruby, os brancos de White, mas há uma cor alaranjada/atijolada chamada Tawny. Nos últimos anos as vinícolas investiram em apresentar ao mercado vinhos azuis, cor de violeta, laranja e outros. Tratam-se na maioria das vezes, de vinho branco com corantes como estratégia de marketing para alavancar suas vendas.


Composição ou mescla de tipos de uvas

Corte, Assemblage, Blend – Quanto ao tipo ou variedade de uvas, os vinhos podem ser produzidos com uma mescla de variedades de uvas a que chamamos de “corte“, ou “assemblage” ou “blend” e que servem para aumentar a qualidade de um vinho, emprestando de cada casta, uma característica que juntas corroboram para um vinho mais equilibrado em taninos, acidez, aromas e sabores. Em países com tradição em vinhos, é mais comum que os vinhos sejam produzidos a partir do corte de uvas, a exemplo de Bordeaux que utiliza um corte das variedades Cabernet Sauvignon e Merlot.

Varietal, Mono Varietal – Nas últimas décadas, impulsionado pelo pioneirismo Norte Americano, começaram a surgir vinhos “Varietais” ou “Mono Varietais“. Um vinho varietal não indica uma qualidade maior, mas sim apenas uma característica de que foi produzido a partir de uma única cepa (única variedade de uva), o que por vezes permite emprestar ao vinho, características intrínsecas de cada cultivar, lembrando que ainda assim o resultado final de um vinho está relacionado também ao clima, região, método de condução das vinhas e tipo de vinificação… então um vinho produzido com uvas Merlot, nunca será igual de produtor para produtor, nem de região para região. Há apenas alguns nuances que tornam os vinhos produzidos com o mesmo tipo de uva, iguais.

Blanc de Blancs – Quando se deparar com uma garrafa de vinho ou espumante, que em seu rótulo apareça esta indicação, significa que seu conteúdo será um Vinho Branco, produzido exclusivamente com variedades de Uvas Brancas (sempre sendo ao menos duas variedades de uvas brancas).

Blanc de Noirs – Quando se deparar com uma garrafa de vinho ou espumante, que em seu rótulo apareça esta indicação, significa que seu conteúdo será um Vinho Branco, produzido exclusivamente com variedades de Uvas Tintas (sempre sendo ao menos duas variedades de uvas tintas). Embora as ivas sejam tintas, apenas as cascas as são. A polpa de todos os tipos de uvas sempre resultam em vinhos brancos e o tempo de maceração que as cascas das uvas tintas são deixadas em contato com o suco da polpa durante o processo de fermentação e fabricação do é que irá emprestar e conferir cor ao vinho.


Doçura dos Vinhos (Açúcar Residual):

Uvas possuem açúcar e durante a transformação do mosto para em vinho, ocorre um processo denominado “fermentação”, que converte açúcar em Álcool e liberação de Gás Carbônico (CO2). Se a fermentação for longa o suficiente para consumir a maior parte do açúcar, obtém-se um vinho seco. Se a fermentação for interrompida precocemente, restará açúcar residual suficiente para obter-se um vinho doce.

As classificações dos vinhos quanto ao seu açúcar residual são:

  • Extra Seco
  • Seco
  • Meio-Seco
  • Suave
  • Adocicado
  • Doce
  • Licoroso Doce

Nos vinhos espumantes, ocorre ainda uma segunda fermentação para a formação do perlage e nessa etapa adiciona-se um Licor de Tiragem (fermento, açúcar e vinho). Na etapa final de engarrafamento do espumante, dependendo do teor de açúcar desejado, o enólogo adiciona também o Licor de Dosagem ou Licor de Expedição (açúcar e vinho). O açúcar residual total compreende o açúcar total que sobrou após as 3 etapas.

Nos vinhos espumantes e champagnes a classificação do teor de açúcar é ligeiramente diferente:

  • Zéro Dosage, Pas Dosé, Brut Zero ou Brut Nature (0 – 3 g/l açúcar);
  • Extra Brut (3 – 6 g/l açúcar);
  • Brut (6 – 12 g/l açúcar);
  • Extra Sec, Extra Dry (12 – 17 g/l);
  • Sec, Dry (17 – 32 g/l açúcar);
  • Demi-Sec (32 – 50 g/l açúcar);
  • Doux (50 g/l açúcar ou mais).


Teor Alcoólico dos vinhos

Vinhos possuem álcool. Vinho sem álcool não existe, é apenas suco de uva. E a quantidade de álcool presente nos vinhos, medida em percentual em relação ao seu colume total, permite os classificarem como sendo:

  • Leve (7% a 11,5% em volume de teor alcoólico).
  • Médio corpo (11,5% a 12,5% em volume de teor alcoólico).
  • Encorpado (12,5% a 13,5% em volume de teor alcoólico).
  • Muito encorpado (13,5% a 16% em volume de teor alcoólico).
  • Fortificado (acima de 16% em volume de teor alcoólico, através de adição de aguardente vínica).

Metodologia e processos (de colheita, fabricação, maturação)

Há muitas outras incrições nos rótulos dos vinhos, que permitem decifrar e compreender parte (ou totalidade) do seu processo de fabricação, ora regido por características da época ou momento da colheita das uvas e tratamento das uvas, ora regido pelo processo de vinificação, ora regido pela técnica ou tempo de guarda dos vinhos (antes do engarrafamento ou após engarrafamento), ora regido por leis específicas de cada região.

Há muitas inscrições que você irá encontrar nos rótulos, mas não se preocupe que aqui no SegredosDoVinho, você a certo momento, irá dominar cada uma destas palavras:

Asti, champenoise, charmat, Sur Lie (sem filtração), barricas de primeiro uso, barricas usadas, pigeage, delestage, barricas americanas ou francesas, tanque de inox, safra vintage, passito, late harvest, solera, crianza, quinado, reserva, reservado, gran reserva, Icewine…